19-01-09
da www.asemana.publ.cv
"Amílcar Cabral lembrado no aniversário da morte" é o titulo do artigo que o jornalista português David Borges, ontem dado à estampa no Diário de Notícias e que aqui republicamos com a devida vénia. Borges fala do "duplo simbolismo" do facto de o dia da posse de Barack Obama calhar no dia do 36o aniversário da morte do fundador do PAIGC. "Um duplo simbolismo parece emergir nesta data cabo-verdiana, primeiro a da celebração de figuras que, cada uma em seu tempo, foram capazes de mobilizar esperanças e projectar sinais de um mundo melhor, depois por ser a América o único 'espaço branco' onde um negro pôde desejar e conquistar a Presidência da República, e de ser Cabo Verde, talvez, o único 'espaço negro' onde um branco poderia desejar e, eventualmente, alcançar o topo do Estado".
Coincidindo com a posse de Barack Obama, Terça-feira, em Cabo Verde, não poucos vão celebrar duas figuras que a história junta nesse dia - Amílcar Cabral, morto a 20 de Janeiro de 1973, e Barack Obama, novo Presidente dos Estados Unidos, que toma posse também no dia 20.
Um duplo simbolismo parece emergir nesta data cabo-verdiana, primeiro a da celebração de figuras que, cada uma em seu tempo, foram capazes de mobilizar esperanças e projectar sinais de um mundo melhor, depois por ser a América o único "espaço branco" onde um negro pôde desejar e conquistar a Presidência da República, e de ser Cabo Verde, talvez, o único "espaço negro" onde um branco poderia desejar e, eventualmente, alcançar o topo do Estado.
Acrescem outras ligações entre a América e Cabo Verde.
Amílcar Cabral é, nos Estados Unidos, uma figura de referência, profundamente estudada e considerada, sobretudo no plano das universidades, fazendo parte da galeria de notáveis do mundo, homens e mulheres que lutaram pela liberdade e pela democracia.
E os Estados Unidos eram, para Amílcar, uma espécie de estrela-guia do avanço africano para o futuro, e ele o disse, nas Nações Unidas, em 1972, quando sublinhou que "[Thomas] Jefferson, [Abraham] Lincoln e [Franklin] Roosevelt" eram não apenas "cidadãos imortais dos Estados Unidos", mas também "cidadãos imortais do mundo".
Haverá, portanto, uma ligação profunda, na próxima terça-feira, entre os Estados Unidos, terra de Obama, e Cabo Verde, terra natal de Amílcar Cabral, com o primeiro seguramente capaz de reproduzir, hoje, palavras de Amílcar, proferidas há 36 anos, quando, nos alvores do ano da sua morte, 1973, e dizendo que a hora era "de acção e não de palavras", quis respeitar a tradição, referindo-se à mudança de ano como o tempo "em que todos os seres humanos (…) que querem a paz, a liberdade e a felicidade para todos os homens, renovam as suas esperanças e certeza numa vida melhor para a humanidade, na dignidade, na independência e no progresso verdadeiro de todos os povos".
Amílcar Cabral foi, em África, um pouco do que Martin Luther King -o líder religioso galardoado em 1964 com o Prémio Nobel da Paz pela sua campanha a favor dos direitos cívicos da minoria negra - foi na América.
Ambos tiveram referências históricas, homens e mulheres capazes de resistir e de encorajar outros a marchar. E continuando a adaptar a bela metáfora americana projectada após a eleição de Obama, Amílcar e Luther King marcharam, sim, permitindo que outros pudessem correr. Agora, na corrida de Obama descobre-se que, a seguir, qualquer pessoa, de qualquer raça, credo ou origem social, pode voar, por enquanto talvez só na América, mas um dia, talvez, em todos os pontos do planeta.
DAVID BORGES
Nessun commento:
Posta un commento